Jogo atrasado.
Campo alagado.
Uniforme rasgado.
E as torcidas pedem bola.
Chuteira sem cadarço.
Meião furado e desfiado.
Calção folgado e desbotado.
E as torcidas querem ver gol toda hora.
Apito quebrado.
Cartões amassados.
Gandulas amuados.
E as torcidas cantam eufóricas.
Mal sabem elas
Que todos temem a bola.
O que fazer agora?
Quem será o primeiro
A ir domar a caprichosa?
Já que não tem ninguém habilitado,
A solução do juiz
É virar pra torcida
E avisar: jogo adiado.
Marcos Matos
O vento me traz de volta
O teu cheiro de chocolate.
Descubro gravada em minhas pálpebras
Aquela velha imagem,
Daquela noite distante.
O frio desta noite é intenso.
Vejo teu espectro na janela,
Olhando nossas constelações.
Ao meu abraço, você se desfaz.
Fecho os olhos novamente,
Para rir de mim mesmo,
Para mim mesmo,
Este sorriso corretivo.
E de violão no colo,
E caneta na mão,
Volto a escrever,
Nessa jovem página amarelada.
Marcos Matos
Por mais que eu minta,
Entendo sua recusa a abrir os olhos.
Realmente fere.
O risco é grande, e a promessa duvidosa.
Mas algo espera na penumbra.
A mão branca estende-se à espera da tua.
O piano toca,
Regido pela ausência dos teus dedos finos.
O piano ainda toca,
Regido pela ausência dos teus dedos finos.
Mesmo de olhos eternamente fechados,
Você pode sentir o vento que veio guiar-te.
E que uiva em teus ouvidos,
O convite da mão nevada;
Que à espera entre as folhas que caem.
Para unir o solstício de ti;
Com o equinócio que precede-te,
E habita nesta alma.
Marcos Matos